o mancebo de torso rígido tem o corpo coberto de pelo negro revolto e entrelaçado como o vento conflituoso que lhe molda as pernas curtas e grossas e arbusta as nádegas de vestes agrestes da moçoila pouco temos a realçar tal é a juventude daquela que nos faz respirar de formas correntes reservadas para despertar ciranda o demónio a mocidade finge esta deixar-se tentar enquanto coscuvilha ri nas costas do pé rachado nada como a inocência para zombetear é o mundo um gigantesco prato onde os humanos são servidos para deleite dos deuses inteiros ou retalhados puros ou aos pecados deitados nos cotovelos apoiados no éter vazio seguram a cabeça as suas divindades agradecidos do espetáculo que momentaneamente os sustenta do infinito tombar não têm os atores memória de tal história ainda que continuamente a venham a representar parece ela sempre renovada muda-se o prato fica o espetáculo lá bem no centro da reinação onde todos os olhos estão postos dançam o moço e a moçoila ao embalar de uma canção que trauteiam os nobres senhores eis não quando a raparigota se sente enrubescer espantada olha em volta procurando explicação para o que ainda não estava a ver mais banzado está o moço de ver assim avermelhada a donzela mas como anda de cabeça à roda ainda insiste em pegar nela dizem que é do demónio a tentação é nos momentos de maior aflição que cada um reage à sua maneira a donzela com precaução o mancebo ilusionado com a asneira ambos com derramamento está a vestal assombrada no meio do prato parada boquiaberta e espantada entre o contentamento e a alvorada por se sentir alvo de tamanho cometimento o efebo peludo todo ele eriçado olha-se sem sentido como todo aquele que padece de um empreendimento mal terminado entra o pai da jovem leva o rapaz de lado também desse mal sofri eu diz-lhe com sinceridade não há moléstia que não tenha reparo pega a mãe na rapariga com ternas mãos maternais para lhe sentir a pulsação e saber de antemão qual poderá ser desenlace da questão o moço ouve saracoteado pois ainda que perceba a razão e tente ouvir com atenção não há maneira de desaparecer o que o levou ao final do primeiro ato confidenciam o pai e a mãe juntam o que até ali apreenderam sobre a moçoila diz a progenitora antecipa a alvorada mas ainda não viveu o amanhecer do rapaz até tem o pai boa impressão fala pouco o que não é mau quer dizer que não tem nada a esconder o problema é que não lhe passa a maleita o que não dá azo a outra consideração entram cinco vestais amigas da donzela não sei a qual a mais bela a primeira a segunda ou as outras três trazem no rosto um sorriso com a marca de uma missão cada uma à sua vez com o moço bailam tudo fazem para tirar de boa uma solução final e não mais uma ilusão após cinco vezes rodopiado está o mancebo no meio do prato abandonado que cumprida a incumbência foram as amigas com a donzela conferenciar mas está bom de ver está o peludo mancebo que nem uma tábua de passar não fosse o peito de rachar lenha e os ombros de arquear mas sem o mais leve sinal do mal regozijam todos os presentes por mais uma volta dada pelo prato ao universo assim se cumpre mais uma vez o destino e se quer dar for finda a representação cantam todos em coro a ordem natural encerra destas maravilhas para cada desafio sabe o mundo encontrar um equilíbrio de amor perfeito galhofam os deuses com o desenlace rebolam-se no éden à gargalhada esbracejando no vazio transmitindo ao prato suaves bailares não todos no entanto um ou dois mantêm-se de cara fechada são deuses que sacrificam a sã camaradagem à sua verdade vivem por isso irritados